Na noite do dia 26 de
julho aconteceu em Maricá a segunda consulta pública sobre o empreendimento
turístico Fazenda São Bento da Lagoa, no Ginásio do Colégio Cenecista (a primeira aconteceu no início de julho em
Itaipuaçu). A mesa
tinha como formação os Secretários Municipais de Turismo e de Meio Ambiente e
Urbanismo, o Sr. Amaury Vicente, e o Sr. Celso Cabral; o Diretor Executivo do
IDB Brasil, Sr. David Galipienzo e o Presidente da ACLAPEZ, Sr. Vilson Correia.
Durante a apresentação
ficou clara a intenção de “vender” um projeto totalmente diferente, inclusive
com a não utilização do termo “Resort” como se este já carregasse uma carga
muito negativa e impopular por todas as lutas travadas em tempos anteriores.
Diante disto foi feita a mostra deste renovado projeto, mas que deixou
descontentes a maioria dos integrantes da sociedade civil ali presentes, entidades
pesquisadoras, da pesca e moradores em geral.
O empreendimento
turístico, esportivo, comercial, empresarial e residencial, que não é um resort,
apesar de ser bem parecido, porém não convenceu com seus argumentos principalmente
aos Professores (Mestres, Doutores) em diversos segmentos de estudos, que ali
estavam representando a si mesmos além das instituições ás quais pertencem
(UFF, UFRJ, UERJ, entre outras), mas principalmente pelos problemas mais uma
vez evidenciados no estudo antrópico, os quais foram sistematicamente questionados.
Dentre os questionamentos
apresentados podemos citar: O que seria “reagrupamento”? Termo muito utilizado
nas apresentações, pelo qual ao longo do discurso o representante da IDB pediu
desculpas por traduzi-la de forma equivocada, pois queria dizer
“regularização”. Esta explicação não convenceu alguns dos presentes, tanto que
este foi um questionamento constante.
Uma observação
interessante é o limbo de quase 9,7% da área, já que 84% da área de vegetação
nativa serão preservada e +/- 6,3% utilizada em edificações, mas podemos pedir
vistas ao Projeto que se encontra na Secretaria de Ambiente, sob número
0004252/2012 de 18/04/12.
Também foi reforçado constantemente
pela IDB que existe a garantia de permanência e regularização fundiária dos
pescadores de Zacarias, mas não convenceu o Sr. Ronga, apelido do Presidente da
Associação de Pescadores de Zacarias que emocionado afirmou que os
profissionais da pesca não querem deixar suas atividades tradicionais para passar
a pegar bolinhas de golfe para os Senhores Jogadores.
O que não ficou inteiramente
claro e definido é o que um empreendimento destas dimensões e com fins
turísticos lucrativos quer realmente atingir com este projeto, pois é de causar
estranheza que algo do gênero se consolide ficar e ser construído entre dois
emissários, sendo de um lado efluentes químicos industriais do COMPERJ e do
outro um emissário de efluentes sanitários, além do pretenso Shopping que
ficaria próximo às estações de tratamentos de esgoto no Boqueirão.
A apresentação bastante
voltada ao Plano Diretor de Maricá e à Lei Orgânica Municipal, ficou aquém dos
que queriam ouvir que seriam levadas em conta as Leis Federais, Estaduais e
também o que está escrito na Constituição Brasileira, mas não passou
despercebido pelos mestres ali presentes, assim como causou não houve
explicação de como abastecer com água potável tratada os 15 mil empregos
diretos durante a construção que afirmam serem criados nessa ocasião, muito menos o esgotamento de tanto resíduo
sanitário oriundo dessa mobilização laboral.
Maricá hoje não conta
com um sistema eficiente para o próprio município e muito menos para
empreendimentos desta magnitude!
Uma coisa é certa, existem muitas dúvidas na
exploração desta ideia e poucas certezas da integração e sucesso de implantação
do projeto no município e aprovação dos segmentos sociais interessados! Nesta
apresentação não forma percebidos critérios que sustentem esta ideia de forma
objetiva.
Enfim e para concluir esta breve narrativa, uma frase
fechou aquela reunião de forma contundente:
“Uma cidade sem cultura não tem identidade!” disse o
Sr. Ronga.
Em particular estive presente no intuito de ouvir
ambas as partes, e realmente não fiquei convencida da viabilidade da apresentação
do empreendimento nas bases em que foi elaborada e apresentada naquele local,
mas fiquei ainda mais atenta para o fato de que este evento, ainda que conduzido
de forma duvidosa, mas certamente trouxe a Maricá, numa noite de meio de
semana, mais de 20 docentes de Universidades renomadas para a defesa daquela
região e refutar argumentação inconsistente. Portanto, quem ainda estava com
dúvidas sobre a especulação turística daquela região, cabe agora novamente, rever
seus conceitos.
É preciso lembrar que a cada governo que se
instaurar a região da APA, considerada ociosa, será alvo de especulação e
intervenção politica do local. Os governos tendem a “leiloar” as áreas
consideradas inertes ou que não representem retorno financeiro imediato aos
cofres municipais. A cada ciclo eleitoral sempre serão travadas novas lutas
para defender os mesmos ambientes e ideais, a menos que se tomem previdências
definitivas de tornar essas áreas intocáveis através de projetos ambientais de
reconhecimento internacional. Enquanto isso, as classes politicas de Maricá e
seus asseclas vão ocupando aquelas áreas de forma irregular e ilegal enquanto
os órgãos fiscalizadores fazem de conta que de nada sabem.
Ana Paula de Carvalho
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