"ATOS"
E ASSUNTOS RELIGIOSOS - PARTE V
Adilson Pereira
No capítulo anterior procurei resenhar
sobre a “perda dos referenciais da fé
quando se é seduzido pelo poder político”. Alguns leitores entraram em
contato perguntando o porquê de não escrever a respeito de líderes católicos,
abordando apenas questões relacionadas a líderes evangélicos. Procurei este
norte por ser esta a minha crença. Limitei-me ao que acredito realmente
importar a mim e aos que compartilham da ideia do
Cristo vivo. Mas, acredito que a hipocrisia cristã está longe de ser um
problema vivido apenas dentro dos muros da igreja física, seja ela qual for.
Está na sociedade, nas famílias, nos comuns. Vejam clickando
aqui.
A história fala por si quando o assunto
é “lideranças religiosas”. Mostrando que não tenho a
intenção de prestigiar, muito menos, discriminar ninguém, citarei um breve
relato do excelente artigo “Habemos Crisem”, que mostra
que a renúncia de Bento XVI é apenas mais um episódio da longa história
política do papado.
O texto, muito bem redigido por Tiago
Cordeiro, atinge o âmago da Igreja Católica. O pesquisador
Anura Guruge, autor de The Next Pope, é
citado da seguinte forma: “O Vaticano
está em crise mais uma vez. Mas essa situação não é nada perto de outros
problemas que a Igreja já enfrentou no passado. A crise será superada, e muitas
outras virão”. Segundo Tiago, um belo exemplo do perigo da união Estado x
Igreja foi o papa Nicolau III (1277
a 1280). Ele usou o cargo para transformar parentes em
cardeais e distribuir riquezas do vaticano à família, coincidindo em muito com
a política contemporânea. Na Divina
Comédia, de Dante, Nicolau III ocupa o 8º círculo do inferno.
Durante a ascensão dos Bórgias, o Vaticano foi ocupado por uma série de pontífices
que comprou brigas com famílias inimigas, indicou familiares para cargos
cruciais da Igreja e instalou verdadeiros bordéis dentro das instalações
papais. Esta crise moral foi a mais longa de todas, durou dois séculos e deu
origem à palavra “nepotismo” que, no original em latim, significa “indicar um
sobrinho”, prática bem comum na política contemporânea. Como disse “Leão X” à
família, ao assumir o cargo: “Vamos
aproveitar o papado, já que Deus nos deu”. Foi durante sua desastrosa
gestão que teve início a Reforma Protestante.
Após a reforma, o Cristianismo entrou
em rota de colisão com a proposta de Constantino. A partir de então, incluiu-se
a justificação por graça mediante somente a
fé, conhecido como Sola Fide, o sacerdócio de todos os crentes;
e a Bíblia
Sagrada como única regra em matéria de fé e ordem, conhecido
como Sola Scriptura. Não obstante, daríamos início a
uma nova ordem de acontecimentos, com alguns líderes evangélicos literalmente
envergonhando o Evangelho. A Igreja
Espiritual é perfeita e pura em sua essência, mas o homem não!
No livro de Romanos, em seu capítulo
2º, o apóstolo Paulo diz claramente que alguns pagãos não conhecem a Lei
(judaica), mas na vida prática, fazem o que a Lei manda. Por isso, são melhores
que os próprios judeus, que conhecem a Lei, mas não a praticam, e com sua hipocrisia acabam desmoralizando o
próprio Deus:
v.20- Instrutor dos
néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei;
v.21- Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?
v.21- Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?
v.22- Tu, que dizes
que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes
sacrilégio?
v.23- Tu, que te
glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?
v.24- Porque, como
está escrito, o nome de Deus é
blasfemado entre os gentios por causa de vós.
A situação se repete nos dias
atuais, onde ímpios duvidam da santidade da Igreja quando se deparam com o
testemunho prático daqueles que deveriam servir de referência de moral e
honradez, mas não o fazem. Estes são os falsos profetas, a quem temos que
vencer em nossa luta diária: “Filhinhos,
vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que
está em vós do que aquele que está no mundo”. (1João4:4)
A Declaração Doutrinária da
Convenção Batista Brasileira tem como princípio, entre outros, a separação entre Igreja
x Estado. Segundo o estudo da revista “Palavra & Vida”, da
Escola Bíblica Dominical (EBD) da Igreja Batista, em Gálatas, Paulo ensina que
todo e qualquer desvio intencional
na mensagem do Evangelho é considerado uma perversão,
uma descaracterização do próprio
Evangelho. O momento atual da história da Igreja se revela, às vezes,
embaraçador: “Porque nós não estamos,
como tantos outros, mercadejando a
palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com
sinceridade e da parte do próprio Deus” (2Co2:17). Que exemplos podemos dar
desta descaracterização do Evangelho?
- O uso da fé evangélica como moeda de troca no mercado consumidor cristão;
- Uma geração de líderes espirituais gananciosos e descomprometidos com a palavra de Deus;
- Uma insistente postura de autojustificação e de religiosidade ritual legalista;
- Um cristianismo cada dia mais sensorial e menos racional.
Alguns líderes evangélicos parecem
romper com extrema facilidade a espessa interface entre o que é e o que não é
ordenamento de Cristo, em nome de benesses políticas dificilmente pautadas na
moralidade. Como pode um pastor pentecostal fazer parte do primeiro escalão de
um governo que decretou três dias de luto oficial pela morte de um pai de
santo? Se a pergunta gera desconforto, imagine este pastor, que é secretário de
Assuntos Religiosos, colaborando para a tradicionalíssima festa de São Jorge em
Maricá, sabendo-se que, no sincretismo religioso, São Jorge e Ogum são um só,
mesmo não o sendo. O que Lutero diria? Como Cristo reagiria diante de tal
situação?
Representantes do governo sempre estiveram
presentes à festa. Agora, temos uma secretaria que responde pelo evento. Será
que o nobre secretário será verdadeiramente ativo na organização da festa e
soltará fogos na “alvorada”? Ou dará a largada à “cavalgada”? Quem sabe, será
estadista o suficiente para participar da missa solene ou dos rituais de
umbanda e candomblé comuns à ocasião. Caso não tenha pensado nisso, pense!
Afinal, és um gestor público, assalariado, num Estado laico de direito.
Para um cristão verdadeiramente selado no
Espírito Santo de Deus, eis um excelente momento para obedecer à última
ordenança do Cristo: “Ide, portanto,
fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado.
E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (Mateus
28:19:20). Mas, se você é inseguro, cuidado! Em tempos de “crise Feliciana”,
não seria de bom grado dar margem a qualquer tipo de especulação sobre
preconceito religioso vindo de sua parte. Ou seria?
“Alea jacta est” – Julio Cesar,
general romano.
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