25ª Delegacia Policial: o resgate
cinematográfico e a ousadia inaceitável
Milton Corrêa da Costa
O inacreditável resgate de um perigoso traficante, preso horas antes com duas granadas na cintura ( homem- bomba), no início da tarde desta terça-feira, 03 de julho, na 25a Delegacia Policial, na Zona Norte do Rio, parece cena de filme americano estrelado por Denzel Washington ou Bruce Willis, com muita mais facilidade e rapidez do que na tela.
Inacreditável e inaceitável a ousadia de narcoterroristas e a vulnerabilidade policial. Cerca de quinze bandidos (o número é esse mesmo), numa ação de guerrilha urbana, armados com fuzis de guerra e se comunicando por radiotransmissores -uma testemunha disse que pareciam um grupo de policiais -transportados em dois carros e duas motos, resgataram, em poucos minutos, o traficante Diogo de Souza Feitosa, o segundo homem na hierarquia do tráfico das favelas de Maguinhos e Mandela.
Um cena real e muito comum no Rio de tempos atrás -hospitais eram também invadidos para resgatar bandidos -que pode tornar a desafiar, incomodamente, a pólicia fluminense. Em 2009, seis bandidos vestidos como policiais civis e armados com fuzis renderam dois agentes plantonistas da Polinter do Grajaú, na Zona Norte, e libertaram 30 presos de uma carceragem. O grupo chegou à unidade policial com um homem algemado e com a suposta documentação necessária para dar entrada na prisão. Eles renderam os dois plantonistas responsáveis pelo controle dos 150 detentos encarcerados no local e começaram a arrombar as celas usando um grande alicate.. Cinco detentos foram recapturados pouco depois da ação.
Quem imaginava, portanto, que o narcoterrorismo, após os episódios da tomada da Favela Cruzeiro e do Complexo do Alemão, na Penha, e da implantação do projeto UPPs, havia sucumbido totalmente, pelo enfraquecimento lhe imposto pela ação vitoriosa das forças de segurança, terá que rever seus conceitos. O narcoterrorismo não morreu em sua essência. Pelo contrário, está mais atuante do que nunca. Para derrotá-lo fragorosamente talvez falte muito.
Precisamos calçar as sandálias da humildade e desenvolver, contra a criminalidade atípica e ousada do Rio, ações permanentes de busca e vasculhamento nos redutos da criminalidade violenta onde quem manda é a lei do terror e das armas de guerra, que continuam adentrando, juntamente com as drogas, no queijo suíço de nossos morros e favelas.
Tudo pode se esperar do banditismo do Rio. O que não se espera é que o nosso aparelho policial ainda seja tão vulnerável a tal ponto. Se a invasão a delegacias policias e o ataque a policias de UPPs virar moda, a relativa sensação de segurança, até aqui vivida pela população fluminense, terá sido coisa do passado e o temor ao crime a tônica do futuro.
No episódio desta terça-feira, da ação de guerrilha na 25ª Delegacia Policial, a criminalidade venceu tendo êxito na ousada missão. A polícia e a sociedade perderam. O planejamento marginal superou as estratégias de contenção policial. Profundamente lamentável. O preço da liberdade e da paz social é a eterna vigilância. Aprenda-se.
Milton Corrêa da Costa é coronel da reserva da PM do Estado do Rio de Janeiro
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