Recentemente eu fui fazer a última homenagem a um grande amigo que, aliás, eu não via há muito tempo. Um cara tranqüilo,morava em Ipanema,tinha no máximo uns cinqüenta anos,um verdadeiro bom vivant.A esposa uma quarentona charmosa e bem fashion,andava igual uma perua,lotada de brincos ,pulseiras,colares,etc.Mais ou menos igual a Hebe Camargo.Eu só a conhecia de nome uma vez que o falecido reclamava muito da liberalidade e até mesmo do comportamento dela.
O sepultamento, como não poderia deixar de ser foi no São João Batista, no Caju, tido como a última morada da hight society.
E lá estava eu naquele gurufim. Sentia-me bastante deslocado visto que na rua só havia carros importados e o meu Pálio que é da cor grafite ficou vermelho de vergonha.Ninguém me dava muita atenção,parece que eles percebiam que eu ainda nem havia alcançado a sociedade emergente.Naquele momento somente o meu amigo defunto me daria atenção se vivo fosse(falar em vivo a operadora ficou fora do ar o sábado todo).Eu olhava para um lado e via olhares dolarizados.Uns fumando cachimbos usando o famoso fumo “half and half e outros fumando os famosos charutos cubanos. Era um desfile de óculos escuros de altíssimo luxo.Eu fiquei pensando e cheguei a conclusão que eu somente teria valor se conversasse com alguém importante naquele ambiente que mais parecia reunião na casa do Lula comemorando a vitória da Dilma,e quem poderia ser a pessoa importante?Quem falo a viúva acertou.Olhei para um canto e vi uma loura de farmácia,cabelos devidamente tratados com prancha alisadora.Ela estava num grupo com uns quatro homens conversando no velório.Lembrei-me das reclamações do extinto quanto a conduta levada dela.Num determinado momento ela estava sozinha tentando antecipar o sepultamento e eu fui falar com ela:
-Bom dia minha senhora...
Ela me olhou com desdém, mas respondeu ao meu cumprimento.
-Que coisa desagradável, o seu marido era uma pessoa tão boa... foi de repente?
-Eu não sei, quando soube eu estava no salão fazendo as unhas...
-Eu sei que nessas horas não existe consolo e a única coisa que eu posso lhe afirmar é que ele está numa muito melhor do que nós... cada qual tem a sua provação,a dele já acabou.
-Você é aquele amigo que ele falava que morava em Itaipuaçu?
-Exatamente, a senhora agora está me conhecendo?
-Claro que não,mas se liga um pouquinho no que vou dizer,nós morávamos em Ipanema bem em frente ao mar,eu caminhava todos os dias no calçadão,eu tomava chopp no calçadão e água de coco na beira da praia,agora me vem você com esse papo mais tão vazio me dizer que ele está numa melhor?Sinceramente, nota-se que o senhor não sabe nada sobre Ipanema.
Mas não deixa de ter as suas razões,o senhor mora num lugar cheio de buracos,sem coleta de lixo,sem um hospital decente um prefeito com um nome no mínimo esdrúxulo,QUAQUÁ, e que para piorar ainda é do PT.
Olha,pode ter certeza para o senhor talvez realmente o lugar que o meu falecido está indo pode ser muito melhor para o senhor,e eu não tenho dúvidas disso.Mas dizer que é melhor para mim?O senhor só pode estar de sacanagem.
-Desculpe senhora eu não quis ofender...
-Claro e jamais me ofenderia, o que vem de baixo não me atinge.
-Senhora, já prestei a minha homenagem e estou indo embora, apresento-lhe as minhas condolências...
O senhor vai para Itaipuaçu hoje ainda?
-Vou senhora
-Olha eu vi um cara lá na rua falando naqueles rádios chatos da NEXTEL que a Rua 35 é a que está melhor, vai por ela para não esculhambar esse carrinho caidinho e muito menos arrebentar com a sua coluna, até porque lá não tem hospital.
Eu me retirava lentamente quando ouvi um cara cheio de cordão de ouro (igual pagodeiro) perguntando a ela quem era eu. Ela respondeu para ele que eu era amigo do finado.Ele então quis saber de onde eu era,e ela respondeu
-Não está vendo o sapato todo sujo de lama?Ele mora em Itaipuaçu.
O cara então bateu de primeira:
-Ah... já ouvi falar,não é um lugar que tem um prefeito com nome de Quaquá?
Saí do cemitério duplamente triste, primeiro porque havia perdido um amigo, segundo porque eu fui vítima de Bullying só porque moro num município sem prefeito
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